Alex Viana
Repórter de Política
O pré-candidato do PSD a governador, Robinson Faria, disse que se for eleito nas eleições em outubro, governará na rua, seu primeiro dia de trabalho será no hospital Walfredo Gurgel, frequentará diariamente as delegacias, visitará as cidades. “Eu não vou ter gabinete em Natal, vou passar pouquíssimo tempo no gabinete. Meu gabinete de governador vai ser nos hospitais, nas delegacias, nas cidades. Vai ser um gabinete itinerante”, afirmou.
A declaração do vice-governador se deu em entrevista na manhã desta sexta-feira ao programa Jornal da Cidade, da FM 94. Na oportunidade, Robinson afirmou que a lógica do seu governo será diferente do modelo tradicional de se fazer administração no Rio Grande do Norte. A tônica será a de presenciar no dia-a-dia os “gargalos” administrativos do estado, notadamente nas áreas de saúde e segurança pública.
“Enquanto não consertar a saúde, enquanto não tiver funcionando nos hospitais, quem quiser falar com o governador vai ter que me procurar no Hospital Regional de Pau dos Ferros, ou no Hospital Regional de Assu, ou no Hospital Regional de Caicó, ou no Hospital Regional do Santa Catarina. Porque eu estarei lá. Meu expediente será lá, nesses gargalos”, afirmou, elegendo o servidor público estadual como prioritário na nova relação.
“Será uma forma de governar dando um choque de gestão, mas um choque de participação, e com isso terei que restabelecer, em primeiro lugar, o diálogo com os servidores. Temos que reequipar as delegacias, que hoje estão todas sucateadas, abrir novas delegacias, criar uma divisão de homicídios, que não existe até hoje, em pleno século XXI, é o único estado que não tem é o RN, ou seja, estamos atrasados”, disse.
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Outro destaque da entrevista de Robinson, no que toca a propostas administrativas, foi o gasto do governo com publicidade e propaganda. Robinson repugnou o modelo atual, que prioriza o culto à personalidade do gestor. Ele defendeu o uso de recursos públicos de Comunicação como ferramenta de desenvolvimento social através de orientação à população.
“Eu, se for eleito governador, não quero nenhuma propaganda que tenha o mínimo de personalismo ao governante. Tem que ser uma propaganda institucional, educativa. Combater o crack, combater a violência contra as crianças, combater a violência contra os idosos, campanhas educativas de trânsito, de doenças como a dengue e outras mais, fomentar o artesanato, o turismo; isso se chama governar, mas governar com a população, governar com a sociedade”, afirmou.
PERFIL
Ao se referir ao perfil do seu futuro governo, o pré-candidato Robinson Faria disse que terá um secretariado eminentemente técnico. O modelo foi implantado por ele na Secretaria de Recursos Hídricos e deu certo. “O político do meu governo será eu, o governador. O governo terá um perfil de qualificação técnica. Pessoas competentes para os lugares certos. Fiz isso e posso provar, quando fui secretário, onde montei uma equipe de excelência, elogiada pelo Banco Mundial, e quando cheguei lá não perguntei quem votou em mim, quem não votou, quem é e quem não é do meu partido. Eu premiei a competência”.
“Acordão quer impor mais Alves e Maias goela abaixo ao RN”
Reiterando sua pré-candidatura ao governo, Robinson abordou, pela primeira vez, aquilo que está difundido como “acordão” entre Alves e Maias nas eleições deste ano. Ele criticou o chapão, ao qual classificou de “super acordão, talvez o maior da história política do Rio Grande do Norte”. Robinson apontou falta de coerência no acordão, onde, de acordo com ele, “predomina a conveniência, o conservadorismo, os interesses particulares e familiares”.
Segundo Robinson Faria, o acordão teve sua primeira derrota na eleição suplementar de Mossoró, quando a candidatura apoiada pelo grupo, da deputada estadual Larissa Rosado (PSB), das quatro eleições de prefeita que participou, teve “o pior resultado com o apoio do acordão”, em termos de votação.
“Eu não tenho nada pessoal contra o cidadão, contra a pessoa do deputado Henrique Alves. Mas eu entendo que esse acordão, que ele é o principal protagonista, é um acordão que não tem nenhuma coerência política. Lá estão partidos que não têm identidade ideológica, que apenas têm interesse no amontoado de partidos, pensando cada um na sua sobrevivência”, disse.
Na visão do pré-candidato do PSD ao governo, a candidatura de Henrique carece de “liga” com a sociedade, porque nasceu de um arranjo político-partidário de interesses particulares. “É uma candidatura que não nasceu de um debate com a sociedade. Quiseram primeiro se reunir entre eles e depois impor, de goela abaixo, à população, uma candidatura forte. Até para intimidar o nascimento de outros nomes que pudesse competir com eles”, afirmou. Entre os nomes a serem intimidados, afirmou, estaria o próprio Robinson.
“Sem nossa resistência, eleição no RN seria por W.O.”
Assim, Robinson afirma que sua candidatura é da resistência. “Eu queria ter o direito de me apresentar às pessoas, aos pequenos, não aos grandes, aos poderosos, aos cacicões da nossa política estadual. Nosso nome foi o nome da resistência, do sonho e da ousadia. E se não fosse essa nossa ousadia, essa nossa persistência, nossa coragem, hoje o Rio Grande do Norte estaria diante de uma eleição por W.O, por aclamação”, declarou.
Ele se disse pronto para enfrentar o palanque da “conveniência de cada um”. “Do outro lado, o que nasceu foi um super acordão que começou por Brasília e terminou em Natal, reunindo mais de 20 partidos, onde, nesses partidos, estão lá os gregos e troianos, onde prevaleceu a conveniência de cada um. Uma acomodação de sobrenomes famosos para que dê certo para todos. Só que esse acordão esqueceu um detalhe importante, que foi ouvir a população”.
O pré-candidato denunciou campanhas orquestradas para desacreditá-lo. “Disseram que Robinson Faria não teria coragem para se apresentar como candidato. Depois disseram que eu não teria poder de viabilizar esse projeto. Que eu não seria um candidato competitivo. Depois que o PT não teria coragem de formar uma aliança com Robinson Faria. Depois disseram que essa aliança não ia continuar. Mas todas as previsões desses profetas do mal, que adoram subestimar, que são analistas conservadores, não se concretizaram. Eles acham que o Rio Grande do Norte sempre será o mesmo Rio Grande do Norte, o mesmo dos mesmos dos mesmos. Mas o povo não suporta mais. O que é o mesmo dos mesmos dos mesmos? É que só pode ser governador quem for Alves ou quem for Maia”.
“Plano de Henrique é laboratório para enganar o povo”
Robinson criticou, por fim, o plano de governo elaborado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves. De acordo com o vice-governador, seu plano de governo será construído no Rio Grande do Norte, através do diálogo com a sociedade civil organizada, ouvindo o agronegócio, a Fiern, a Fecomércio, os comerciantes, os trabalhadores rurais, a Fetarn, “assim você irá proporcionar o verdadeiro e ousado programa de governo para o nosso Estado”, e não, completou ele, “importar de fundações que cobram contas milionárias com um pacote pronto de laboratório pronto para tentar enganar a consciência do povo”, afirmou, numa referência ao plano de governo encomendado por Henrique a entidades de fora do Estado.
“Eu sou totalmente contra. Eu acho que o plano de governo deve nascer dos anseios de cada região. Por isso que nós do PSD e do PT estamos fazendo os nossos encontros programados a nível regional para ouvir as reivindicações de cada região. Essa sim é uma forma de governar”, disse Robinson, afirmando que irá implantar o orçamento participativo. “Vou implantar o orçamento participativo. Onde poderemos eleger quais são as políticas públicas, discutindo com a sociedade. É o povo participando do governo, dando voz ao povo, uma forma de governar com modernidade, a construção do Estado a partir da sociedade”.
Sobre o fechamento da chapa, com indicação do vice-governador e suplentes de senador, Robinson confirmou diálogo com o PCdoB e outros partidos. “Ainda vamos conversar com outros partidos e não há desespero, não há sofreguidão, não há ansiedade. Daqui para 30 de junho, encontraremos um vice-governador bastante interessante, competitivo, que queira somar com a nossa aliança, que tenha um perfil de modernidade, disposto a quebrar essa política antiga, coronelista, velha, ultrapassada que o povo não suporta mais. Não há motivo para nervosismo, eu sou uma pessoa que sempre mantive a minha serenidade”.
“Henrique e João Maia até hoje têm cargos no governo Rosalba”
O vice-governador Robinson Faria apontou outra suposta incoerência da chapa Henrique Alves/João Maia. Ao se referir ao governo Rosalba, disse que ambos (Henrique e João Maia) foram derrotados pela governadora em 2010, aderiram ao governo, fizeram indicações de cargos, saíram recentemente, mas continuam com as indicações. O pior, entretanto, segundo Robinson, é Henrique e João afirmarem ser oposição.
“Saí do governo com poucos meses. Fui para a oposição entregando todos os cargos que o meu partido tinha. Desci a rampa do poder para ficar perto do povo e para poder falar pelo povo. Foi uma atitude inédita na história política do Rio Grande do Norte, doar o seu capital para eleger e sair. Ao contrário de muitos que subiram a rampa do poder, que aderiram ao governo de Rosalba e que ficaram até semana passada participando desse governo, e que agora querem posar de oposicionista, mas na verdade passaram quatro anos”, afirmou.
Segundo o vice-governador, “o pior: perderam a campanha, mas aderiram ao governo Rosalba. Esse governo foi um governo de desastre e agora querem se eximir da culpa deixando a culpa somente no colo da atual governadora, quando eles tiveram poder de mandar, de indicar cargos. Aliás, até hoje estão com cargos políticos importantes no governo Rosalba”, disse.
“Você sabe: o PMDB aderiu ao governo Rosalba, o PR aderiu ao governo Rosalba, uma bancada grande de deputados. Então, formaram uma aliança de oposição, entre aspas, porque não tem nada de oposição. Porque da Assembleia para dentro são governo, da Assembleia para fora são oposição”, declarou ainda Robinson. “É só olhar quem está no governo, vá visitar o interior. Vá aos municípios que você vai encontrar facilmente que os cargos municipais, que são de comissão, pertencem a líderes de partidos”, aponta.
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